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08-09-2004

A inocência crucificada


Editorial

É difícil imaginar o que se passou na passada semana em Beslam, na Rússia.
Se imaginar é impossível, mais complicado se torna pensar ou sequer escrever sobre os trágicos acontecimentos que envergonharam toda a humanidade.
Como é possível haver gente, se de gente se trata, capaz de tais actos?
Que motivos se podem sobrepor ao valor máximo que representa a vida de uma criança?
Que religião pode preconizar tamanho sacrifício?

Aproximamo-nos e vemo-nos apenas no reino da barbárie e da pura selvajaria, mistificada e encenada por sacerdotes ou profetas, cuja única aspiração é o poder. Passámos, de repente, por perceber que aquelas personagens que aprendemos a ver nos filmes do James Bond, se tornaram realidade. Toda a sorte de vilões e psicopatas que se têm mostrado ao mundo nestes últimos anos, apareceram, de repente, naquela pequena cidade da Ossétia do Norte.
Desgraçadamente, não vimos os heróis dos filmes e apenas fomos atropelados pela crueza do mal.
Vimos na dor de cada mãe de Beslam um grito de raiva oprimida, como vimos nos campos de concentração judeus, nos tchetchenos em carroças deportados e mortos na Sibéria, a mando de Estaline, nas vítimas do terror norte-coreano, na revolução “cultural” maoísta chinesa, nos Tutsi africanos ou no passado tenebroso de ditadores como Sadam, Fidel ou Pinochet.

Esta é a dura realidade que sempre vimos na história da humanidade, mas sempre cremos que já haviam ultrapassado porque evoluímos, técnica e culturalmente. Não é verdade. A evolução e o desenvolvimento devem ser globais. Não apenas pela razão da justiça humana, mas também para evitar franjas de descontentamento que levam a fanatismos, capazes de perpetrar actos deste tipo.

O terrorismo internacional chegou em força à Rússia e, em apenas duas semanas, provocou quatro atentados e centenas de vítimas inocentes. Os dirigentes russos estão a perceber, da pior maneira, o quanto lhes custou não apoiarem os esforços internacionais na luta contra esta praga. O tradicional e orgulhoso espírito nacionalista bacoco do antigo comunismo soviético está a fazer afundar o gigante de pés-de-barro.
A teimosa ideia de que têm solução para tudo, permitiu tragédias como o Kursk, intervenções desastrosas como na crise do teatro moscovita e ainda a incapacidade de prever ataques a aviões ou escolas por parte dos serviços secretos.
Não é que no ocidente se tenham evitado desastres como Atocha ou as das torres gémeas, mas são, neste momento, muito mais difíceis de serem consumados. Numa coisa, goste-se ou não de Bush ( e eu não gosto particularmente) os americanos têm razão e o Presidente disse-o no seu discurso na convenção republicana: “temos que combater o terrorismo lá fora e ajudar os outros a eliminá-lo porque senão vamos travar esse combate no solo pátrio”.
Pode ser difícil de entender, mas tem sido eficaz. Por isso, devemos perguntar a Putin se valeu a pena fazer todo aquele espalhafato para defender um abjecto ditador entrincheirado entre o Tigre e o Eufrates.
Um outro aspecto desta tragédia continua a ser a verdadeira e constrangedora forma como as autoridades russas continuam a tratar o seu povo e todos os que manifestam vontade em ajudar. Em primeiro lugar, sofrem ainda dos tiques dos regimes comunistas de esconder a verdade, com as chamadas pequenas verdades. Vimos anunciar 300 reféns e, afinal, eram mais de mil. Estamos num mundo globalizado, esquadrinhado por satélites e aviões ultra sofisticados e esta gente pensa que se ocultam estas desgraças como no tempo dos czares. Em segundo lugar, o uso desproporcionado da força. Ficará sempre a dúvida, devido ao passado sanguinário do exército russo em situações semelhantes, sobre a verdade do assalto à escola. De qualquer das maneiras, uma coisa é certa – prepararam incompetentemente o assalto.
Acredito que Putin ainda vai a tempo de mudar, mas a primeira coisa que tem de fazer é perceber que só com a verdadeira liberdade e construção de uma democracia sólida é que pode vencer todo o ódio com que os seus antepassados russos e soviéticos inocularam, por exemplo, o povo tchetcheno.

António Granjeia*

*Administrador do Jornal da Bairrada

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